9.29.2017

A verdadeira história da batalha de Aljubarrota e a falsa Padeira

Para abreviar há 2 histórias diferentes. 
A oficial - que é uma treta, como acontece com todas. E a que os investigadores descobriram até agora. Mas que nenhum livro de História do plano oficial de estudos reproduz. A História que se ensina às crianças é pura fantasia. Nem 5% do que se lê nos livros de História do 3º ciclo é verdade. Porquê? 

É o que me falta descobrir. Tenho algumas teorias mas tenho que investigar muito mais. 


Fernão Lopes conta que os portugueses formaram em quadrado. Vêm os espanhóis com a sua imensa força, carregam sobre a vanguarda portuguesa, os castelhanos rompem a frente, penetram no quadrado, parece que está tudo perdido mas não está. Porque na terceira fase o quadrado fecha-se outra vez, os que entraram ficam prisioneiros e os outros fogem. É isto.


Nenhum investigador acredita nesta história - que é a que está a ser vendida no Centro de Interpretação de Aljubarrora, como acontece sempre. 
Quase nada do que nos contam se passou da forma que nos contam e daí este meu estudo sobrevoando os principais episódios da História de Portugal sob o prisma das modernas interpretações dos investigadores portugueses e dos números que, tal como o algodão, não enganam e explicam quase tudo. 


Os especialistas militares dizem que se assim fosse tratar-se-ia de um milagre (mais um!) pois não há memória de outra batalha em que uma pequena força de 6000 homens (anglo-portugueses) tenha vencido rapidamente uma força muitas vezes superior (de franco-castelhanos): 20 a 30 mil. 
Pois não. Porque também não foi nada disso o que aconteceu. 

O cronista francês Jean Froissart, contemporâneo da batalha, explica o que aconteceu. 
Diz que realmente as tropas de D. Juan I (o rei de Castela que tinha casado com a criança D. Beatriz, filha de D. Fernando também se chamava "João" tal como o Mestre de Avis) trazia consigo uma força numerosa mas composta de 2 grupos. Um de forças francesas (cavaleiros e escudeiros sobretudo) e, cerca de 2 léguas mais atrás, o grosso das forças castelhanas. 


Froissart esteve 3 meses nos Pirinéus no próprio ano da batalha, 1385, a ouvir franceses que tinham conseguido fugir e sobreviver. 
E eles contavam a seguinte história: 


Quando o primeiro grupo de franceses viu os portugueses, que eram tão poucos e mal armados, acharam que não precisavam de mais ninguém para os destroçar. Os franceses tinham inclusivé exigido ao rei de Castela a honra de serem os primeiros a resolver o problema. E o rei autorizou os cavaleiros franceses a virem acabar com a resistência portuguesa. 

Portanto há uma primeira batalha das tropas francesas (cavalaria) contra os portugueses. Que lutam sempre a pé, à maneira Inglesa. Dispensámos a cavalaria a mando dos ingleses. Os cavaleiros portugueses lutaram apeados pela primeira vez. 

Era já tarde, hora de véspera (depois das 6 da tarde). Muito calor. Sol de frente para os franceses que vêm a galopar com uma grande fúria mas caem numa cilada criada pelos consultores ingleses que D. João I tinha contratado no ano anterior. Esses consultores profissionais no modo de lutar Inglês - o de maior sucesso à época - escolheram muito bem a posição portuguesa. Tratava-se de uma frente de 800 metros limitada por 2 rios, que ia estreitando e fora pejada de obstáculos como abatises, covas de lobo e outros à maneira inglesa. Veja-se "Bravehart" de Mel Gibson para se perceber o que digo. 

Com centenas de archeiros de arco longo e besteiros ingleses de cada lado. Não há cá Alas de Namorados nenhumas. Isso é tudo lenda. 


O mestre de Avis tinha pedido a Ricardo II de Inglaterra alguns especialistas na forma de combate inglês, que estava a ser testada na Guerra dos 100 anos. E foi isso o que fez a diferença. Essa forma de combate tinha sido já usada na batalha de Nájera, na Península Ibérica, durante a Primeira Guerra civil de Castela. De 1366 a 1369. 
Em maio do ano anterior, o mestre de Avis tinha enviado a Inglaterra 2 homens de sua confiança para contratar especialistas e veteranos na Guerra dos 100 anos (de 1337 a 1453). Há registos de terem embarcado logo 260 e depois mais 150 especialistas e veteranos de guerra ingleses para ajudar D. João I. Mas terão vindo muitos mais. 

E foram eles quem fez a diferença. Os archeiros ingleses foram decisivos no massacre, pelos flancos, as hordes dos cavaleiros franceses. O arco longo permitia uma cadência de 10 a 12 flechas por minuto, enquanto um bom besteiro só podia atirar 2 vezes no mesmo período de tempo. 


Finalmente os cavaleiros franceses viram-se caídos nas covas de lobos, desorientados, encurralados e apertados por todos os lados, pelas lanças da infantaria, pelos cavalos abatidos atrás e pelas milhares de setas dos archeiros de arco longo e besteiros mercenários ingleses. 
Os sobreviventes, quando viram que não podiam escapar, optaram por render-se. Mas estavam à espera que D. Juan I, que trazia consigo dezenas de milhares de homens atrás, os viesse libertar passadas poucas horas. 

Froissart diz que se fizeram mais de 1000 prisioneiros e que cada um valia mais de 400 mil francos. Um autêntico tesouro em resgates. 

Só que NunÁlvares tinha feito as suas contas e bem sabia que aquilo não era o exército principal do rei de Castela. Mandou 6 cavaleiros espiar o grosso do inimigo. E eles trouxeram-lhe a pior das notícias. A batalha ainda estava para começar! O rei de Castela está a avançar com mais de 20 mil homens! 

Já o sol se tinha posto, ia começar a noite mas o rei de Castela ainda cai sobre o exército português. Quando se percebeu isto, os consultores Ingleses propuseram a D. João I matar os prisioneiros, porque não se podia combater estas impressionantes tropas com os prisioneiros por trás. Parece que os portugueses tiveram um grande relutância mas a solução adotada acabou por ser mesmo esta. 
E foram degolados todos os cavaleiros e escudeiros franceses que já estavam em poder dos portugueses. 

Um massacre terrível de 1000 homens indefesos. É isto que explica o elevado nr de mortos de Aljubarrota. Não era costume morrer tanta gente em batalhas medievais. 


O grosso das tropas castelhanas cai no mesmo logro, já é quase de noite e não vê as armadilhas. 
E também é preciso dizer que D. Juan I não conhecia o terreno. Viajava de liteira há 15 dias porque estava bastante doente. 

Ele nem queria avançar sequer, acatando o conselho deo negociador Pêro Lopes Ayala mas os jovens cavaleiros castelhanos (mancebos) sem experiência impeliram-no a isso. 

Convém assinalar que as tropas castelhanas estavam muito desfalcadas de estrategas e de capitães com experiência, porque tinham morrido muitos cavaleiros com mestria e experiência militar tanto nas batalhas de Trancoso como no cerco de Lisboa 2 anos antes, neste caso com a peste negra. 

Froissart, passados 4 anos da batalha, em 1389, conseguiu falar com um dos capitães de Aljubarrota. Justamente Diogo Fernandes Pacheco, que tinha sido o guarda-mor de D João I. 
E Pacheco contou a história da mesma maneira com uma pequena diferença. 


Confirmou que foram duas batalhas e não uma. 
A primeira, com os cavaleiros franceses, que caíram naquela cilada. A segunda com os castelhanos que vêm quase ao anoitecer. 

E que foram desbaratados sendo que a maior parte dos castelhanos mortos não apresentavam feridas. Tinham sido vítimas de um ataque de pânico, apenas. Foram esmagados na sua fuga ou dos companheiros. 

Mas assegura que não foram os nobres quem chacinou os prisioneiros. Foram "os dos concelhos" - exército apeado oriundo das terras rurais. Ou seja: o povo. 

Tirando esse pormenor a historia é essencialmente a mesma. Há 2 batalhas e não uma. Em 2 momentos diferentes. E há esse episódio tenebroso da chacina dos prisioneiros. 



Padeira? 
Daí a lenda da padeira de Aljubarrota, a Brites de Almeida, que dentro de um forno teria matado 7 castelhanos. É apenas uma lenda embora a Brites tenha provavelmente existido. Tinha 6 dedos em cada mão, era feíssima e levava uma vida errante. Vinha fugida de Loulé e no Alentejo teria matado um pretendente. Outra história associa-a a uma fuga para Espanha num batel que teria sido capturado por piratas argelinos que a teriam vendido como escrava a um poderoso senhor da Mauritânia. Teria conseguido fugir e, depois de levar uma vida pouco virtuosa, acabaria por se estabelecer com uma padaria em Aljubarrota. No dia 14/8/1385 encontra 7 castelhanos fugitivos escondidos no seu forno. Instou-os a sair mas eles não o fizeram. E, com a pá, acabou por matá-los a todos. 
Simboliza a resistência popular. E pretende "justificar" a morte dos cavaleiros franceses pela perseguição popular. 

Resumindo: Quem ganhou a batalha de Aljubarrota foi: 

- a escolha do Terreno entre 2 ribeiros largos e fundos (16 braças) que impediam movimentação das tropas franco-castelhanas que os não podiam atravessar. 
 - a forma Inglesa de preparar terreno e obstáculos. Montagem de armadilhas. Covas de lobo e abatises. 
- os atiradores ingleses de arco longo e besta. 

Portanto, se não fossem os Ingleses a ajudarem-nos, levávamos aquilo a que se chama: uma valente trepa.