11.06.2003

A demissão de José Luis Vaz é um retrocesso na informação

José Luis Vaz demitiu-se do cargo de director do Porta da Estrela.
Devido a pressões externas e a insinuações de carácter partidário.
Quem pensava que a história acabava aqui enganou-se.
A demissão de José Luis Vaz não está, ainda, completa e publicamente explicada.
A informação perde um bravo combatente, o PE um director com uma linha editorial sólida e não pactuante (como se provou), e o jornal perde ainda, se não explicar rápidamente o que aconteceu e porque aconteceu, muita da credibilidade que esta equipe lhe fez granjear nos últimos meses.
O jornal Porta da Estrela é uma referência incontornável na informação regional. 25 anos - nem todos brilhantes, é certo - constituem, no entanto, um marco indelével na nossa história. O PE constitui-se como o maior arquivo de acontecimentos ocorridos na nossa região. Só o online comporta mais de 3000 notícias e em menos de 3 anos de vida.
Há cerca de ano e meio, quando começámos a trabalhar em equipe, este jornal marcava presença trimensal na nossa cidade. E pouco mais.
O esforço férreo mas praticamente solitário do jornalista José Manuel Brito conseguia, sabe-se lá como, manter o PE ainda vivo. Mas mais não podia, um homem só, fazer.
Este jornal merecia, pelo seu passado, que não ficasse reduzido à triste condição da concorrência de então: mais um mero jornal da paróquia, bajulante, tristemente risível.
E não ficou. Uma pequena mas tenaz equipa empreendeu um trabalho ingrato e não remunerado e o jornalismo recomeçou, talvez pela primeira vez desde há muito tempo, a dar mostras em Seia. Incomodando alguns mas aplaudido por muitos, o PE recomeçou a tratar verdadeiramente os problemas reais da população.
José Luis Vaz integrou e deu a cara a este novo projecto.
Crescemos em conteúdos, gráfica e estéticamente.
A contribuição do designer gráfico Márcio Martins - o mais recente elemento a integrar esta equipe - conferiu-lhe o que lhe faltava: uma imagem moderna e consistente que não desmerece quando comparada com as melhores produções regionais e, atrevo-me a dizê-lo, muitas das nacionais.
O novo PE não se compara com o de há 3 anos.
Ganhou influência, credibilidade, eficácia jornalística e, acima de tudo, respeito.
Multiplicou as vendas de âmbito regional. Consolidou as nacionais e as internacionais. A edição online é vista por milhares de pessoas por mês. Por todo o lado se ouve dizer, quando surge alguma notícia bombástica, como infelizmente tem acontecido nos últimos tempos: "já vou ver o Porta da Estrela Online, para ver o que é que eles dizem".
É somente preciso andar na rua e contactar com as pessoas para se verificar a importância que este jornal tem ganho na sociedade senense.
E o José Luis Vaz não é, de todo, alheio a este sucesso.
Ele é um dos "culpados", a par do repórter Fernando Paninho, do jornalista José Manuel Brito e do designer Márcio Martins, pelo sucesso recente do jornal. Já nem falo no aspecto comercial. Apenas dos conteúdos.
O director, inesperadamente, saiu.
É preciso que explique, detalhadamente, porque abandona, o timoneiro, o navio que ele próprio ajudou a construir e colocou a navegar já em velocidade de cruzeiro.
Porque apenas tinhamos vencido a primeira batalha: a da credibilidade.
Faltava consolidá-la, faltava evoluir, faltava partir para voos mais altos e mares mais profundos.
Era preciso deixar de navegar à vista.
O director não podia abandonar-nos agora.
Ainda mais quando o motivo da sua demissão é tão frágil quanto parece.
Ainda mais quando a história que lhe deu origem é tão inóqua e inocente que só uma pessoa mal intencionada poderia nela ver alguma segunda intenção. Nem assunto chega a ter, a meu ver.
Espero que este jornal a publique apenas para que os leitores se apercebam que nada existe de "sumo" naquela peça que pudesse provocar tal terramoto.
Acusaram-no de defender interesses partidários... a ele?
Inacreditável!
Mas de que partido, já agora?
Durante todo o tempo que trabalhámos em conjunto, garanto que nenhum de nós o poderá acusar de tal. De falta de tempo, de indisponibilidade sobretudo nas horas dramáticas do fecho, ainda vá.
Agora: de partidarismo? Só pode ser brincadeira!
Mas se o é, foi de muito mau gosto. E despoletou uma situação que não é confortável para ninguém. Nem para o jornal, nem para o director, nem para os visados na dita peça, sobre quem a partir de agora pende uma sombra de suspeita totalmente absurda, porque "não deixaram" ou melhor: tudo fizeram para que não fosse devidamente explicada esta história.
Espero sinceramente que reconsiderem.
Ele e o jornal.
Uma batalha perdida não inutiliza toda uma guerra.
E a nossa guerra é contra o obscurantismo, a prepotência e a falácia.
Pelo direito de informar e com isso contribuir para o bom funcionamento do mecanismo de auto-correcção social de que a imprensa escrita é elemento preponderante.

João Tilly
29/10/2003