12.28.2002

Justiça Portuguesa para o Guinness, já!

O procurador-geral da República, Souto Moura, violou há dias o seu tão querido Segredo de Justiça - utilíssima instituição ao abrigo da qual a denominada Justiça portuguesa trabalha calmamente, e com toda a ponderação diligencia no sentido de NÃO deixar prescrever os processos incómodos para os poderosos - ao anunciar que mais dirigentes de clubes estão sob investigação.
O inenarrável Valentim Loureiro, presidente da Liga Portuguesa do Pontapé no Esférico, entre mais 12 Sociedades, Institutos, Fundações e Casas, não lhe quiz ficar atráz e teve uma reacção considerada pelo Bastonário da Ordem dos Avogados como «infeliz» ao propôr que "ou o País pára com as investigações ou não há Euro2004".

O bastonário explicou ao país que o quis ouvir que a violação do segredo de justiça não ocorre só quando os nomes das pessoas investigadas são revelados, mas também quando, naturalmente, se envolve toda uma classe num clima de suspeição.
Júdice tentou informar o povo menos distraído que o procurador geral da República, o seu Defensor, «não devia ter dito o que disse» e, «se o fez, é porque vai provavelmente anunciar muito em breve os nomes dos dirigentes» sob investigação.
Esqueceu-se de dizer que, se o fizesse, Souto Moura cometeria a segunda violação ao mesmo segredo da mesma justiça.
Bem tentou, o patrão dos advogados, mas ninguém lhe ligou nenhuma. Não é sequer notícia, este pequeno precalço, neste pequeno país.

Agora: notícia de pôr os cabelos do Presidente da Républica e de toda a classe partidária em pé, foi a "boca" do Major, logo secundado pelo Senhor do norte, Master Pinto da Costa. A mensagem foi clara como a água: Os "pulguíticos" que se ponham a pau, porque se não dão ordem aos juízes para que coloquem a corrupção futeboleira acima da Lei já e imediatamente, os clubes estão dispostos a parar os campeonatos, e as obras nos estádios para o Euro 2004 seguem o mesmo caminho!

Que chatice!!!
Lá iria o país poupar 1.200 milhões de contos, conseguindo de imediato a convergência para os 2,8% da Ferreira Leite!

Com a mesma convicção do major, o colega Dias da Silva defende precisamente o contrário daquele, confirmando a existência de sacos azuis e dinheiro sujo no futebol português. Já Maria José Morgado tinha acusado o futebol das mesmas panóplias de crimes que o seu chefe hierárquico, o director da PJ Adelino Salvado, prontamente desmentiu. Enquanto isso, os partidos degladiam-se para descobrir quem publicou as actas da comissão de inquérito, que é o que verdadeiramente os preocupa.
Querem lá saber da corrupção, branqueamento e sacos azuis da bola... para isso existe aquela máxima do mentor intelectual da TVI, guru Teresa Guilherme: "isso não interessa nada!".

As declarações de Souto Moura e Valentim Loureiro surgem três dias depois de Pimenta Machado ter sido libertado sob uma caução de um milhão de euros (200 mil contos), após ter sido detido no domingo por suspeitas de peculato e falsificação de documentos.
Esta detenção pode ter entrado directamente no Guiness, não pelo montante da caução, mas pelo tempo que a Judiciária demorou a "incomodá-lo" desde que este criminoso confesso o reconheceu perante as câmaras da televisão. Quando admitiu gerir sacos azuis, Pimenta tornou-se no 2º português contemporâneo a confessar os seus crimes publicamente ao vivo e a cores (o Primeiro foi o inefável Portas).
Só cerca de mês e meio depois foi detido.

Investigadores creem que se trata de um recorde de ineficácia da PJ, só ultrapassado pelo caso da criança desaparecida há cinco anos em que, apesar de ter aparecido posteriormente em fotografias espalhadas em várias revistas, nunca nada foi investigado até hoje.

Bom Ano

Joao.tilly@netvisao.pt